É terça-feira e isso significa que temos mais uma convidada no Parenting a dinosaur.
Hoje trago uma convidada que conheci pessoalmente quando foram formados núcleos do Mappe (Movimento Pais, Professores, Educadores e Alunos Unidos), um movimento que surgiu no grupo de facebook Escolas Alternativas e Transformar a Educação em Portugal, criado pela Ana Rita Dias, uma amiga que só tem um defeito, cria grupos e movimentos com títulos super compridos.
Então, dona Cláudia e dona Tânia lá se encontraram a pensar que iriam revolucionar o Alentejo litoral. Infelizmente o Alentejo litoral não é assim tão pequeno e, quer a distância, quer os desafios pessoais de cada uma não facilitaram muito e acabámos por não passar de um bom almoço. Esse almoço já se repetia um dia destes, fica a dica dona Tânia.
Falando um pouco sobre a Tânia, com formação na área das Ciências Sociais e Humanas e Certificação de facilitadora pela Academia de Parentalidade Consciente, criou um projeto para dar apoio a outros pais na área da Parentalidade Consciente e Educação positiva, através de Sessões de Acompanhamento a Pais, Workshops e Palestras. O projeto chama-se "Educar Lado a Lado" e irei deixar os links no final do artigo.
Vamos passar, então, ao artigo que a Tânia decidiu partilhar connosco.
Gestão das Emoções e Comportamentos indesejados da criança
Muitos dos nossos desafios, enquanto pais, estão relacionados com os comportamentos das crianças. Ou é suposto fazerem algo que não querem fazer, ou passam a vida a fazer tudo aquilo que não é suposto. Muitas vezes desejamos que fossem mais organizados, mais calmos, mais cooperativos, menos birrentos, menos resistentes, menos barulhentos….
Então, como é que a Gestão de Emoções pode ajudar nos momentos em que é necessário controlar comportamentos indesejados?
Existe uma relação direta entre a forma como as crianças se sentem e a forma como as crianças se comportam. Crianças que se sentem bem, portam-se melhor. Crianças que se sentem mal, portam-se pior! (Tal como os adultos, certo? Quando nos sentimos mal também nos “portamos” um bocadinho mal às vezes, ou não é?)
Dito isto, parece simples, certo? O segredo está então em saber como fazer as crianças sentirem-se bem!!
Como ajudar uma criança a sentir-se bem?
Será que a estratégia é dar um gelado sempre que o meu filho pede, ou comprar tudo o que ele quer, ou fazer-lhe todas as vontades? Certamente que a criança fica bem feliz… temporariamente… mas não é disso que falamos aqui.
Há outra forma, mais eficaz, de fazer as crianças sentirem-se realmente bem, no seu interior, que é atendendo as suas necessidades emocionais.
Quero destacar a seguinte ferramenta: aceitar as suas emoções. Ajuda a criança a sentir-se bem e revela-se muito útil quando a criança quer um gelado e os pais acham que não é a hora adequada. Quando a criança quer comprar mais aquele brinquedo mas os pais consideram que não vão fazer essa compra. Em vez de fazer o seu filho sentir-se bem fazendo as suas vontades, aproveite essas situações para aplicar a ferramenta. Fique atento ao que a criança quer e utilize o momento para ensinar sobre as emoções, sobre quão chato é quando nos sentimos aborrecidos ou desiludidos. Sobre como todos nós de vez em quando ficamos frustrados e zangados por não termos aquilo que queremos.
A vida é assim mesmo: feita de muitas desilusões e momentos menos agradáveis. Tal como existem muitos momentos em que estamos felizes e radiantes. Nada é para sempre. Nem a felicidade nem a tristeza. Penso que isto é uma aprendizagem muito valiosa para uma criança – e para todos nós, na verdade!
Observo que nós, adultos, queremos muito salvar, distrair as crianças das suas emoções, principalmente das emoções menos agradáveis como a tristeza, a raiva, a desilusão ou a frustração. Na verdade, nós próprios não sabemos ainda muitas vezes como lidar com essas emoções fortes, e sentimos dificuldade então quando é hora de ajudar os nossos filhos.
As emoções apenas SÃO.
Aprendi com a MikaelaÖven, que as emoções apenas SÃO. Não são boas nem más. São todas normais e úteis de alguma forma. Enquanto não aprendermos a gerir o nosso próprio sistema de sentimentos, vai ser mais difícil controlar o temperamento dos nossos filhos.
Todos nós adultos lidamos com emoções ao longo de toda a vida, e todos nos sentimos tristes de vez em quando, aborrecidos de vez em quando, festivos de vez em quando, excitados de vez em quando, desiludidos de vez em quando…. As crianças vão sentir emoções sempre, mais vale ajudá-las, acolhendo essas mesmas emoções, guiando no seu processamento.
E o bónus aqui, é que empatizando e aceitando os sentimentos do meu filho, sem resistir, consigo melhorar muito a qualidade da nossa RELAÇÃO. Que no fundo é o mais importante, certo?
O que estamos a fazer mal?
Apesar de saber qual a fórmula que funciona melhor, dou por mim a dizer e a ouvir muitas vezes coisas do género:
“Ah, não vais ficar zangado com uma coisa dessas, né….”
“Olha, só dizes isso porque estás aborrecido, aposto que amanhã já pensas de outra forma…”
“Sinceramente, não vejo razão para tanto drama!”
“Vê lá se queres que te arranje uma razão para chorar!”
“Esquece isso, já passou!”
“Não fiques triste, olha aqui, vamos brincar com este jogo!”
Penso que são frases bastante comuns que, quer queiramos quer não, acabam por dificultar a nossa comunicação com os filhos. São modos de abordar as crianças, hábitos de comunicação, que provêm de crenças sociais muito enraizadas. Acredito que muitas vezes não nos damos conta dos conceitos que utilizamos, e esquecemos frequentemente que as crianças são muito literais a interpretar as mensagens dos adultos.
O porquê de ser prejudicial negar as emoções
Quando negamos as emoções das crianças com alguma frequência, isso pode confundir e enraivecer os mais pequenos – ou seja, cria mais emoções difíceis, que depois levam a atitudes de agressividade, resistência, birra. Ainda por cima a criança está numa fase de aprender a conhecer-se, e a conhecer o seu sistema emocional. Está a aprender a relacionar-se com todas as outras pessoas. E ao lidar com esta negação dos seus sentimentos, a criança aprende a não confiar em si própria, a não identificar aquilo que sente, a reprimir aquilo que sente – e nada disso contribui para uma boa educação emocional.
Afinal, se todos queremos que as crianças cresçam para se tornar adultos bem resolvidos, com uma boa auto-estima, felizes – então a Inteligência Emocional conta, e muito!
O que fazer, então?
A ideia aqui é começarmos por nos ouvirmos melhor, a nós próprios. Pode pensar-se: “ah, eu não digo essas coisas, talvez os outros pais, mas eu não…”. Se é o seu caso, sugiro que dê mais atenção às suas palavras, frases, modos de comunicar, comunicação não-verbal… O mais provável é que dê por si a utilizar formatos de linguagem que nem se tinha dado conta.
Evite julgar o seu filho, evite criticar as suas emoções, escolhas, opiniões, desejos ou receios. Mantenha-se aberto ao que o seu filho lhe transmitir. Por mais parvo, desadequado ou insensato que pareça. É uma criança e precisa do adulto para aprender a processar essas sensações.
Imagine que está no supermercado e a criança quer mais uma caixa de Lego, apesar de ter dez em casa e até quase não brincar com elas. Admito que a minha vontade é dizer: “Olha, nem penses, porque ainda noutro dia te comprei um lego, e não pode ser sempre, e tu queres tudo o que vês e pensas que o dinheiro nasce nas árvores e blablabla.” . Sim, é o que apetece responder. Mas isso só faz sentido no nosso mundo de adulto racional.
Acontece que é bem mais útil para a criança, e os resultados são muito melhores, quando digo algo do género: “Estou a ver, tu agora querias mesmo levar mais essa caixa de Lego, adoravas que eu ta comprasse. Percebo, às vezes também me apetece comprar certas coisas que eu adoro, como decoração ou roupa!! Hoje não vamos gastar dinheiro em brinquedos, o nosso objetivo era levar iogurtes e carne e é o que vamos fazer.” Se a criança continua a insistir e a pedir e a chatear, eu posso manter-me gentil, empática e firme na minha decisão: “Adoras tanto Legos que estás com dificuldades por não irmos levar a caixa. Legos são mesmo fixes.. se levasses esses hoje, como irias brincar com eles?”
DICA EXTRA:
Certas manifestações emocionais podem ser mais desafiantes de acolher do que outras. Por exemplo, quando uma criança diz: “Não gosto da avó, não quero ir visitá-la”, isso pode conter imensos gatilhos, as minhas próprias emoções ficam todas reativas e pode ser mais difícil para mim ficar presente para a emoção do meu filho. Então, fiquem atentos às coisas que mexem mais com vocês e aproveitem para treinar a vossa Inteligência Emocional.
Por Tânia Mestre
Espero que tenham gostado deste artigo e que sigam de perto o projeto da Tânia!
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