Hoje, trago mais uma grande parceira, a Deva Avibhasha (Ana Rita Lucas) que, conheci por intermédio da minha busca de parceiros giros e interessantes para o blog. A Avibhasha é terapeuta ayurveda, ThetaHealer e facilitadora de meditações ativas e vem partilhar connosco a sua visão e experiências acerca da forma como vive a parentalidade com a sua filhota, à luz da disciplina positiva.
Gostaria de ressalvar que, mesmo quando nos esforçamos imenso para implementar a disciplina positiva com os nossos filhotes, nem sempre é fácil, falhamos imenso e, muitas das vezes parece "não funcionar". Primeiro, recordo-vos que os bebés e crianças reagem de formas diferentes a uma mesma situação porque são indivíduos únicos e, detentores de personalidades únicas. O exemplo que a Avibhasha nos traz, parece uma história perfeita, com resultados perfeitos mas, calma.
Tenho a certeza que a nossa companheira tem ultrapassado imensos desafios para "quebrar" padrões de comportamento adquiridos na sua educação e que, também ela, passa pelas suas dificuldades. A vocês que nos leem peço que absorvam sobretudo a importância de "olhar" a criança como um potencial humano em formação, "olhar" o seu comportamento como mensagens indiretas que a criança nos envia daquilo que são as suas necessidades e, mais do que qualquer outra coisa, olhar em perspetiva não para o comportamento em si mas para a mensagem que o mesmo possa trazer.
A imagem que escolhi da página da Deva Avibhasha é a de um mandala feito com peças de algum jogo de construção de madeira. Escolhi esta imagem propositadamente como símbolo da vivência da maternidade/parentalidade, sempre em constante mudança, movimento e transformação, de uma forma única, mágica e muito pessoal.
Que esta partilha vos guie e inspire de alguma forma é o que desejo!
Vamos então passar ao texto da nossa companheira.
Parentalidade Positiva versus Permissividade - O Testemunho de uma Mãe
Desde cedo me comecei a questionar e a querer ir fundo na minha história, perceber as minhas crenças e padrões que me levam a reagir/agir ou simplesmente a não fazer nada. E percebi que uma das minhas grandes dificuldades é a EXPRESSÃO/COMUNICAÇÃO do que sinto e do que quero. E mais tarde como terapeuta percebi que esta é também uma dificuldade transversal a muitas pessoas. Ou porque acreditamos que o que queremos e sentimos não interessa, ou porque temos medo de expressar, ou porque não sabemos como fazer, ou qualquer outra razão que nos leva a reprimir e acumular sonhos, vontades, desejos e sentimentos.
Assim, quando descobri que estava grávida uma preocupação foi: quero que a minha filha saiba expressar-se, não tenha medo nem vergonha de dizer o que sente e o que quer. Então decidi que iria fazer o que estava ao meu alcance para minimizar essa questão dentro da minha família e em especial na minha filha.
Durante os 9 meses de gravidez falava muito com a minha filha na barriga, e o pai também. Eu dizia-lhe o que íamos fazer, o que estava a sentir, partilhava com ela as minhas alegrias e os meus receios... E tinha sempre o cuidado de quando estava a sentir-me mais triste, mais agitada, com mais raiva, de lhe dizer: ISTO É DA MAMÃ! Porque eu sei que ela sentia tudo tal como eu, mas ela não estava a viver o mesmo que eu, e eu ao dizer-lhe que era um sentimento meu, ela sentia-o na mesma, mas a memória criada é totalmente diferente. O diálogo com a barriguinha foi tanto e a compreensão era tal que a minha filha nasceu num dia em que eu pedi e como eu pedi: a partir do dia 15 de Setembro (nasceu a 22) e a um Sábado, num parto tranquilo e rápido (tudo aconteceu naturalmente e em 12h...) J E nasceu também com o peso e tamanho que eu lhe pedi.
Após o nascimento essa comunicação continuou e continua hoje, quase 2 anos depois! É uma forma de estar e educar que requer tempo, disponibilidade e compreensão. Desde bebé que explico à minha filha as alteração de rotinas que vamos ter: que vamos a casa dos avós, que a mamã vai ausentar-se por 2/3 horas e o papá vai ficar a cuidar dela, que o papá ia dar-lhe o biberão com leite da maminha que eu ia deixar... Com 7 meses foi para uma Ama, ao 1 ano de idade foi para a creche, depois do confinamento foi para uma Ama diferente. As adaptações foram sempre super tranquilas, a Inês nunca chorou nem estranhou. Nós explicamos-lhe as coisas e fazemos uma adaptação gradual (tal e qual como gostávamos que nos fizessem a nós!).
No nosso dia-a-dia tento explicar tudo à Inês: não somos adeptos da punição física, nós educamos através do diálogo e negociação; incentivo e apoio a Inês a expressar tudo o que deseja e sente: desde dizer quando quer beber água, até expressar a frustração e a raiva. E ensino-lhe como deve expressar algo, quando ela usa uma forma menos clara. Quando quero que ela faça alguma coisa ou quando quero fazer-lhe algo (mesmo dar-lhe um beijinho!): pergunto-lhe e a resposta dela eu respeito-a. Se ela não quer calçar sapatos quando vai sair de casa, não calça! Se ela me diz que não ao meu beijinho, eu não dou! Claro que me dizem: mas a tua filha não tem “quereres”! Ela é muito pequena para saber o que quer! Quem manda és tu! ... entre muitas outras...
Não concordo! A minha filha, como qualquer outra criança ou ser humano: tem vontades, sabe o que quer (pode é não saber expressar!), e tem sentimentos. Eu como mãe apenas quero garantir que ela não vai fazer algo perigoso, ou magoar os outros, o resto é a responsabilidade dela. Se ela vai descalça e depois se magoa no pé, vai chorar e eu vou dar colo e suporte, e ela da próxima vez vai ter mais cuidado ou calçar os sapatos. Agora se ela quiser brincar no meio da rua, claro que não vou deixar! Vou explicar-lhe o porquê de não a deixar e dar-lhe uma alternativa: um lugar seguro onde ela pode brincar. Ela como criança, ao contrário de mim como adulta, não consegue distinguir o seguro do perigoso, e o meu papel de mãe e educadora é mesmo esse: AJUDÁ-LA A FAZER AS MELHORES ESCOLHAS PARA ELA NO MOMENTO.
Acima de tudo quero que a minha filha perceba e sinta que as vontades dela são tão importantes como as minhas ou de qualquer outra pessoa, e que cresça a confiar que pode sempre expressar o que sente e quer. É desafiante esta forma de estar e educar, com muitos comentários alheios, com muitas críticas na família ... A minha (nossa, cá em casa) forma de estar com ela, não é: ela faz o que quer! Mas antes, nós adultos estamos aqui para balizar um SER HUMANO: dando-lhe limites e escolhas.
Por Deva Avibhasha (Ana Rita Lucas)
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