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A hora de dormir

Foto do escritor: Cláudia FariaCláudia Faria

A nossa convidada de hoje é a Márcia Arnaud, psicóloga clínica, apaixonada por pessoas, mesmo as de palmo e meio, segundo ela.


Hoje traz-nos uma pequena reflexão em torno do sono, com algumas indicações de bibliografia a pesquisar, quer para miúdos quer graúdos.


Espero que gostem e que durmam bem!


A hora de dormir, por Márcia Arnaud:


O sono é um elemento da nossa vida essencial à reparação e restauração do corpo.


As perturbações do sono são dos sinais mais recorrentes de que algo se passa com o indivíduo. No caso das crianças, por norma, estas espelham dificuldades no cuidador, da criança e da interação entre ambos. Para refletirmos sobre este tema, trago uma sugestão de um livro infantil: Quando vou dormir o mundo para (da editora Livros Horizonte).


A hora de ir dormir é, inevitavelmente, um momento de separação, não só dos pais como do mundo exterior. Este livro fala daquilo que imaginamos que acontece quando estamos a dormir, onde tudo parece que para, que permanece suspenso, no tempo e no espaço, até o regresso à vigília. As fantasias da criança sobre aquilo que acontece fora, enquanto ela dorme, ou a aquilo que poderá acontecer com ela própria, pode ser suficientemente angustiante para, neste momento preferencialmente solitário, surgirem angústias na fase de adormecimento que podem levar a um prolongamento desta fase ou até a pesadelos ou terrores noturnos posteriores.


Nesta época de pandemia, marcada particularmente por um clima geral de insegurança, é normal que possam surgir estes quadros (em pequenos e graúdos), pela reativação de questões mais primitivas que agora se tornam "mais ou menos reais". A função parental e, especialmente materna, tem um papel muito importante no que diz respeito à hora de dormir. É graças ao sentimento de segurança interior da criança, fomentado pelos calorosos cuidados maternos, que a criança consegue aceitar a separação e abandonar-se ao sono.


O sono dos bebés é particularmente sensível a quem o deita e, nos primeiros tempos a quem o adormece. A angústia das figuras parentais sobre o sono e o adormecimento da criança e dos próprios tem repercussões igualmente no estado psicológico da criança e no seu sono. Quando, por exemplo, um bebé que sente quem o adormece tenso (i.e. assustado) é normal que "ateime" a não dormir, por não se sentir seguro a deixar a mãe sozinha. A imprevisibilidade, atitudes contraditórias, humores tendencialmente depressivos ou excesso de estimulação são fatores que dificultam a interiorização da segurança necessária para o bom desenvolvimento do sono da criança.


Este livro infantil termina com a frase: "quando vou dormir, o mundo pára, só a minha cabeça é que não!". Esta ideia pode ajudar-nos a explorar aquilo que acontece dentro da criança enquanto dorme, isto é, os seus sonhos e pesadelos. A atividade continua a existir no nosso cérebro quando dormirmos. Enquanto sonhamos, o nosso cérebro pega em toda a informação desarrumada na nossa cabeça e tenta dar-lhe sentido e arrumá-la.


O Dr. Eduardo Sá diz inclusive, no seu novo livro Quando estava na tua barriga, que "sonhar torna-nos (…) mais inteligentes e mais sábios!". Os sonhos e os pesadelos são, muitas vezes, sentidos como estranhos à criança pequena. Torna-se uma tarefa também ela importante, fazer a ligação entre o "eu que dorme" e o "eu acordado" e os sonhos, e a sua recapitulação, são uma ótima forma de dar continuidade a este "eu" que está em formação.


Com a última página podemos, com os mais crescidos, trabalhar os pensamentos ruminantes que os deixam acordados à noite, medos, preocupações, etc.. Estes pensamentos são sentidos como intrusivos e prejudiciais, dos quais pouco, ou nenhum, controlo parece que se tem sobre e afetam, entre outras coisas, o sono. Se formos mais longe, e falarmos de adolescentes e jovens, é muito comum uma "invasão de pensamentos" na hora de dormir.


Para além de vivermos na era da produtividade e da eficácia, onde o ato de dormir passou a ser dispensável da nossa lista de tarefas do dia (para quê dormir se há tanto que podíamos fazer nessas horas?), vivemos na era das dificuldades em desligar e do exponencial FOMO (fear of missing out) que parece manter a mente de todos em constante funcionamento e alerta.


Independentemente da idade, adormecer é separarmo-nos, estarmos no escuro sozinhos e ser invadidos pelo nosso interior composto por sonhos mas também de pesadelos e nem sempre é fácil lidar com este panorama. É de sublinhar que o sono tende a ser cada vez mais desvalorizado na nossa cultura; os únicos que parecem continuar extremamente preocupados com ele são os pais, que fazem de tudo para afugentar o Papão e para conseguirem dar aos seus filhos (e a eles!) noites de sono tranquilas. Uma boa forma de aprofundar a temática dos sono é através do mais recente podcast O teu mal é sono com temáticas diferentes todos os meses, incluindo uma sobre o sono infantil no mês de agosto.

Durmam bem!

Por Márcia Arnaud (Psicóloga Junior da OPP)


Já agora, sigam a Márcia no instagram (mente.entre.aberta):

https://www.instagram.com/mente.entre.aberta/



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